21 anos depois...


Dia desses me perguntaram: Quem são estas pessoas no desenho que encabeça o blog? O croqui assinado pelo cartunista Byrata testemunha uma roda de violão no antigo restaurante Balantines, na rua André Marques em Santa Maria, no Rio Grande do Sul. Na época, eu (de boné, ao violão) recém havia dado baixa do quartel, e tocava em barzinhos para poder pagar o curso pré-vestibular. À minha volta, dois grandes talentos musicais: O cantor Pedro Aquino (de chapéu), dono de uma das mais belas vozes tenores que já ouvi; e o estimado amigo Otávio Segala (de barba). O quarto elemento era DJ e produtor musical de sucesso nos anos 70 e 80. Me foi apresentado pelo apelido de Baratinha.

Vinte e um anos se passaram e um daqueles parceiros foi alçado à condição de amigo vizinho. Otávio Segala também vive no Rio de Janeiro. É um dos mais geniais compositores de MPB que já ouvi. Dono de uma obra grandiosa em quantidade e qualidade. Ele harmoniza ao violão como poucos. Compreende a música como filha única do pai ritmo e da mãe melodia. Família exemplar aos ouvidos de quem aprecia arte sonora, bela e criativa.

Pode parecer suspeito elogiar um amigo e conterrâneo, ainda mais para nosotros, gaúchos bairristas; mas quem disse que a simpatia não faz parte dos nossos filtros diante da arte? E não deixei por menos. Quando este grande compositor me pediu um depoimento para anexar ao seu blog, me atrevi a soltar alguns verbos e manadas de adjetivos, algo difícil para um jornalista que resiste à imparcialidade do seu metier. E tasquei assim:

Tchê louco.

Engrosso o coro de teus fãs. Me gustam teus floreios. Fortes, mas ágeis. Firmes, porém leves. Tropel de potros alados na cancha reta do pinho. Tu enobreces os gemidos desta senhora vigüela, de corpo acinturado, igual matronas antigas. Compartilhamos o amor por tal dama desde piás. De minha parte, já se vão três décadas de fidelidade. Lembro que o missioneiro Noel Guarany foi o culpado. Aquele “Potro Sem Dono” do “... Sem Fronteiras” foi irresistível!

Talvez te recordes daquela gravação para a RBS TV em 1988, no Farrezão em Santa Maria, sob a direção do Sérgio Assis Brasil. Eu, tu e César Paz Carvalho. Três violões bem ajustados e o cantor Pedro Aquino solto das patas num agudo vibrato: “É meu destino de peããããão... Andar por muitas estradaaaaaaaaas...” Bah!

Naquele mesmo ano, me emprestaste teu repertório de MPB para que eu também me embretasse nas sonoras pulperias noturnos da Boca do Monte. Pois aquelas fotocópias viraram Bíblia, Corão, Torah no meu sacerdócio pelos butecos do Rio-berço-do-choro-samba-bossa.

Ainda hoje, quando ensimesmado, me chegam ao vento palavras doadas por algum anjo poeta. Transcrevo as rimas pro papel e busco emoldurá-las em toscas frases melódicas. Nada belo, mas honesto.

Na Primavera de 2004, uma dessas letras órfãs de melodia encontrou seu lar. Numa tarde mormacenta na Tijuca, ruminávamos lembranças da querência ao sabor de acolhedores mates de erva nova. A aurora precursora da inspiração cintilou. Fagulhas chisparam em nossas mentes fertilizadas por lúdicos golpes de licor de butiá.

E se vieram à la cria feito estouro de boiada. Firmes como palanques de cedro no banhado. E Poetizaste ao violão. Dedos de Midas. Os parcos e despretensiosos versos de "Praça Onze" ganharam vestimenta nobre, à la João Gilberto. Bossa novíssima sob manto apolíneo recém desfraldado, direto de Olimpo. E me dei por satisfeito com o agraciamento divino.

Amigo velho... Desejo que te mantenhas sempre conectado em banda larguíssima com o Arquiteto do Universo.

Leia no blog do artista, o que Luiz Fernando Veríssimo escreveu sobre Otávio Segala.

http://soteiadepoimentos.blogspot.com/

Confira o trabalho de Otávio Segala no Youtube: (11 videos)

http://www.youtube.com/results?search_query=otávio+segala&search_type=&aq=f

Comentários

  1. Chê de Deus...
    Lindo texto...rico em poesia.
    Eu agradeço ser amiga destes dois talentos...meus irmãos... Marcelo e Otávio.

    Angelise Fagundes "da Boca do Monte"

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