O Rádio III
Sabe aquela sensação de encontrar uma cédula de dinheiro perdida no bolso de uma roupa aposentada no armário? Foi mais ou menos o que senti ao reencontrar minha primeira revistinha de eletrônica, oculta inadvertidamente durante muitos anos, entre velhos livros de filosofia. Além da boa surpresa, encontrei certa lógica neste acaso. Daqui a pouco explico esse “insight”. Pois a tal revistinha fazia parte de uma coleção lançada nos anos 80 pela “Editora Saber”. Trazia o título “Experiências e Brincadeiras Com Eletrônica.”
O autor era Nilton C. Braga. Muitas vezes aproveitei o troco do pão para investir naquele conhecimento. Desfolhei a antiga revista e encontrei projetos “sensacionais” como as pilhas feitas com limão ou moedas.
Imagine só, poder montar em casa, com meia dúzia de peças, um “timer” que utilizava o então moderníssimo circuito integrado. Uau! Mal comparando é como se hoje, um garoto de 14 anos tivesse nas mãos as peças e o passo-a-passo para montar em casa um iPad. Naqueles dias, eu já havia convencido meu pai de que merecíamos ter um ferro de soldar na caixa de ferramentas. Para quem não conhece, trata-se de um tubo de metal com uma resistência elétrica por dentro e uma ponteira de cobre. Ligado à tomada, ele aquecia e derretia a liga de estanho que fecha o contato elétrico. Ainda hoje é assim. Alguns leigos no assunto chegam a pensam que o tal soldador poderia ser usado para colar pequenas peças metálicas quebradas, como de relógios ou óculos... Um equívoco.
O “Timer” da revistinha tinha a tarefa de desligar um radinho de pilhas após prévia programação de tempo. Atualmente, qualquer camelô vende um aparelho destes por menos de 10 reais, mas na época, o “timer” era inovador e genial. Continuei desfolhando a velha revista. Algumas páginas adiante, revi o projeto que de fato, lembro de ter colocado em prática: Um transmissor de FM com microfone. Ah, como me diverti com aquele protótipo montado de forma improvisada dentro de uma lata de sardinha com tampa de madeira! Com algumas adaptações, consegui ligar meu gravador k7 naquela geringonça e colocar NO AR, minha mini estação de Rádio com 50 metros de alcance.
Foi com aquela “latinha” que dei início aos meus ensaios de locução radiofônica. Ah, sim... Sobre o “insight”... No começo da década de 80 a eletrônica digital ainda engatinhava no Brasil. O computador estava longe de ser um eletrodoméstico. Figurava-se como algo inacessível. Uma inovação guardada a sete chaves em instituições norte-americanas como o Pentágono, a NASA e algumas universidades de ponta. A tecnologia já havia dado início a sua revolução que abalaria as bases ideológicas do mundo.
E aqui explico o meu “insight”... Aquela revistinha de eletrônica analógica primitiva, perdida entre livros platônicos e socráticos deixou seu recado. A tecnologia nos impulsiona para a compreensão do que existe de oculto no mundo das idéias soltas no ar. Aos 14 aos, de forma tosca e experimental, eu começava a descobrir este fantástico universo e como me comunicar através dele.
Esta Foi tambem minha primeira revista, tinha em torno de 10 anos na epoca que lancou-a, foi quando comprei com meu irmao.
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