É pau, é pedra é o fim do caminho...
Grãos de areia ampliados
São as águas de março fechando o verão... Atrasadíssimas. Exageradas. Por certo o Manda-Chuva do Céu tem seus motivos. O temporal foi gota d’água que transbordou a barragem dos nossos merecimentos trágicos.
Os governantes eleitos por nossa maioria sofrem de uma incapacidade congênita e coletiva de dizer “não” para o errado. Aprovam e incentivam as ocupações irregulares nos morros, os puxadinhos na favela, o descontrole da natalidade, os projetos mentirosos e politiqueiros que prometem melhorias na vida das famílias de baixa renda. São estes mesmos governantes, que por ignorância ou omissão estimulam a cobrança de propina por parte dos fiscais diante das irregularidades a serem combatidas.
Isso vale para qualquer serviço público ou área de risco. Aprenderam isso com as velhas raposas da “polititica” nacional e repassam aos filhos, numa intenção de perpetuar o sistema atrasado, corrupto e desumano que aí está. Um Estado que mata por ano mais inocentes do que qualquer guerra armada.
As conseqüências da falta de educação de governantes e governados saltam aos olhos nestes momentos de lágrima e condolência. Avalanches de omissão e ignorância também descem morro abaixo. As ausências de atitude e conhecimento contribuem de forma determinante no efeito cascata dos "pequenos" enganos de cada cidadão, que via de regra, se transformam em tragédias coletivas. É como um grão de areia: Sozinho, não demonstra importância, mas aos montes, viram dunas e desertos invencíveis.
Na tragédia dos alagamentos e deslizamentos da região metropolitana do Rio de Janeiro, observamos que essa velha lição não foi assimilada. O papel de bala... O saquinho de supermercado... A garrafinha pet... Estavam perdidos nas ruas, se associaram em milhares e entupiram a rede de águas pluviais. Onde... Quando... Com quem está a culpa? Todo mundo, sempre, em todo o lugar. No trajeto do caminhão de lixo que não passou. Na atitude boba de jogar o papel de bala pela janela do carro. Na calçada do Sugismundo. Nas redes de supermercados que esbanjam as malditas sacolinhas eternas que arrebentam na nossa mão e com a natureza.
Nos morros, os deslizamentos acontecem mais facilmente onde as árvores foram arrancadas e o solo perdeu firmeza. Sem árvores, não há folhas e galhos para amortecer as gotas de chuva e impedir que toquem o solo com tanta força. Os ambientalistas sabem disso, a Defesa Civil sabe disso, o governo sabe disso... Mas a maioria dos moradores das favelas ignora problemas como este, tão determinantes em suas vidas. É a cultura do "remediar" em detrimento do "prevenir". O governo não se importa com isso. Quer apenas os impostos, as propinas e os votos.
Todas nossas atitudes estão atreladas à rede de causa e conseqüência. É a Lei de ação e reação propagada pela física e algumas filosofias avançadas. Quando a maioria de nós acreditar nisso, cada grão de areia, cada gota d’água receberá a atenção devida. Até isso acontecer, é bem provável que a maioria siga montanha abaixo, no embalo de outras águas de março.
“É o fundo do poço, é o fim do caminho
No rosto o desgosto, é um pouco sozinho
É um estrepe, é um prego, é uma ponta, é um ponto
No rosto o desgosto, é um pouco sozinho
É um estrepe, é um prego, é uma ponta, é um ponto
É um pingo pingando, é uma conta, é um conto.”
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