O Rádio



Nunca vou esquecer a emoção que senti ao ouvir pela primeira vez o som estéreo do rádio sintonizado numa emissora FM. Com um fone em cada ouvido, minha percepção sonora mergulhava num universo diferente, de novas sensações prazerosas. Que magia era aquela que permitia ouvir uma música dividida em duas, dentro da cabeça? Vozes e instrumentos que até então se concentravam no meio dos olhos, como se todos os músicos, tocassem num palco imaginário de um metro quadrado, bem a minha frente!
-Ah... Agora com a FM estéreo, a claustrofobia a que fui acostumado pelo som monoaural das rádios de ondas médias, estaria com os segundos contados, pensei.

Os anos setenta haviam chegado ao fim. A nova década surgia com inovadoras tecnologias. Eu tinha 12 anos e já não achava graça em ouvir música nas rádios OM com aquele som chiado, sem graves e agudos, saturado de freqüências médias. Além disso, o rádio FM possuía uma luzinha vermelha, que se acendia quando a sintonia fina captava a freqüência exata da emissora. Como era divertido girar o botão lentamente, de um lado para o outro, até que a tal luz se firmasse. A sensação era de ter ganhado um prêmio!

Vivi estes momentos de felicidade quando meu pai comprou um moderníssimo aparelho de som três-em-um da marca National. Tinha esse nome porque possuía três funções básicas: Toca-discos, toca-fitas e rádio. Junto com o aparelho, veio um fone de ouvido da marca Selenium, que cobria as orelhas e isolava o som externo. Naquela época, as rádios FM imprimiram uma nova linguagem, mais jovem, bem menos solene que o estilo de comunicação a que nos acostumamos a ouvir nas rádios OM. Aliás, a nomenclatura das bandas de freqüência de rádio era variada. Tinha a OT, ondas tropicais; a OC, ondas curtas. Esta última possuía ainda subdivisões de acordo com o tamanho das ondas em metros. Para mim, o que importava é que todas  possuíam terrível sonoridade.  

Quando a FM estéreo surgiu, me conquistou de imediato. Eu passava horas e mais horas ouvindo música no rádio, isolado do mundo fora dos fones. Quando completei quinze anos, meu pai e minha mãe me presentearam com um “radinho de fone de ouvido”. Foi um alívio para meu pai, que enfim, poderia voltar a ouvir seus discos de música clássica e suas rádios lo-fi preferidas no 4-em-1... Afinal, o aparelho havia ganhado uma peça a mais – um adolescente que não desgrudava dele.

Entre a garotada, a nova febre era o Walkman, da Sony. Era importado e muito caro. Mas meu novo PS-110 da CCE não ficava devendo nada. Tinha recursos que o Walkman não possuía: Um autofalante embutido e gravador K7 com microfones estéreos... Uauuu!!!! Com este novo parceiro, passei madrugadas acordado gravando músicas que tocavam na rádio Gaúcha, uma das primeiras FM´s do Rio Grande do Sul. Era a única emissora que “pegava” na pequena cidade de 15 mil habitantes em que eu vivia. A programação era costurada com sucessos nacionais e internacionais .  Um playlist diversificado que misturava Pink Floyd com Agepê, ABBA com Belchior, Bee Gees com Peninha, Elis, Raul Seixas, Rita Lee, The Beatles, Tim Maia; Earth Wind and Fire... Tempo bom, sem preconceito musical!

Anos depois, a Gaúcha trocou o nome para Atlântida e transformou-se na maior rede de rádios FM do sul do Brasil. Antes disso, eu já havia traçado meu primeiro sonho de adolescência. Eu estava tão apaixonado por rádio que decidi ir parar dentro dele. Mas essa história eu conto depois. 

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